21 de outubro de 2011

Restauração de 'Sant'Ana' de da Vinci no Louvre causa polêmica

'A Virgem e a Criança com Sant'Ana', de Leonardo da Vinci. Foto: Divulgação
Preocupado em não se expor na polêmica sobre a restauração em curso do quadro Sant'Anna, de Leonardo da Vinci, o museu do Louvre, em Paris, apresentou a obra-prima do Renascimento sutilmente refrescada, graças à suavização das camadas de verniz. Instalada num dos ateliês de restauração do Palácio do Louvre, La Vierge à l'enfant avec Sainte Anne (A Virgem e a Criança com Sant'Ana) é revelada a jornalistas meses antes de sua apresentação ao público, em março.
Alguns retoques, no entanto, ainda não foram realizados - motivo pelo qual nem a televisão nem os fotógrafos foram convidados. Iniciada em Florença, em 1503, esta pintura em madeira é considerada uma obra da maturidade de Leonardo da Vinci (1452-1519) que nunca a concluiu. Sua restauração, decidida em 2009 após uma longa reflexão e um importante trabalho de pesquisa, começou em 2010. Foi confiada a uma restauradora de origem italiana Cinzia Pasquali, assistida pelo Centro de Pesquisa e de Restauração dos Museus da França (C2RMF), localizado no entorno do Palácio do Louvre, com seus laboratórios e ateliês.
O que marca de início é a volta do azul no quadro que estava mergulhado em tonalidades de amarelo, verde e marrom, sob o acúmulo de vernizes. O céu se apresenta, agora, com um azul quase límpido, as montanhas se destacam, a paisagem ganha em profundidade. O manto da Virgem, que estava maculado por manchas ligadas a uma restauração, nos anos 1950, reencontrou um azul celeste. Nesse estágio do trabalho, pode-se ver que Leonardo da Vinci, que trabalhava camadas sucessivas, teve o cuidado de pintar a roupa vermelha de Maria antes de recobri-la, em parte, com o manto azul.
O rosto de Sant'Ana foi levemente clareado, mas ainda permanece muito bronzeado, o que deverá acalmar as preocupações de alguns especialistas em Leonardo da Vinci, que temiam uma intervenção mais pesada. "Para os rostos, deixamos uma espessura de verniz de 16 ou 17 mícrons em média sobre a camada de pintura", confirma Vincent Pomarède, diretor do Departamento de Pinturas do Louvre. Um trabalho sobre as estrias deve ainda ser feito para atenuá-las.
Globalmente, "conseguimos manter a suavidade, a pátina dada pelo verniz mas, ao mesmo tempo, descobre-se a composição", destaca ele. A apresentação à imprensa já era prevista pelo Louvre, mas adquiriu uma intensidade particular com o aparecimento de um artigo muito crítico do Journal des Arts intitulado Leonardo em perigo. Divulgado no dia 7 de outubro, diz que a intervenção apresenta "riscos maiores para a obra".
"Leonardo é um monstro sagrado. Nos cercamos de precauções e de conselhos para estarmos seguros de que os padrões e especificações ténicas fossem observados", afirma a direção do C2RMF. "Houve um verdadeiro debate sobre o nível de suavização dos vernizes. A maioria queria ir mais longe. Optamos por uma suavização mais moderada em relação às propostas apresentadas, principalmente pela restauradora", informou Pomarède.
"Um debate surgiu em relação à árvore que se apresenta na composição porque percebemos que troncos secundários haviam sido acrescentados, sem dúvida no século XIX. A restauração é a arte do equilíbrio", comenta Pomarède, que tem a última palavra sobre o dossiê de Sant'Ana.

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